quinta-feira, 23 de junho de 2016

E a magia do começo? Pra onde foi?

Por Joyce Borges


Agenda lotada, prêmio Mundial, cargo importante numa cia de dança, pessoas admirando seu trabalho, vigiando o que você posta nas redes sociais, o que você faz, em que eventos está, o que anda fazendo. Eventos todo mês, planejamento financeiro, plano de mídia, ensaios, exercícios de nivelação da turma, gente saindo, gente chegando e no meio de tudo isso aulas, aulas como aluna, aulas como professora.

Esses dias que realmente parei para pensar no quanto os meus valores e expectativas da dança mudaram com o passar desses anos. Um amigo me perguntou: com que acessório você mais gosta de dançar a dança do ventre? Naquele instante eu me transportei pra 8 anos atrás, no meu solo com velas na primeira Festa Árabe do Gnética. Lembrei que desde então nunca mais dancei com velas... elas eram as minhas preferidas. :(



Num bate papo com outra amiga me lembrei das aulas de dança cigana e de dança do ventre, logo quando comecei, do universo paralelo que existia entre o mundo lá fora e aquele momento. Quando entrava na academia o cheiro do incenso já me dizia que seria mais uma noite de descobertas. No vestiário nos maquiávamos e nos arrumávamos como que pra uma apresentação, era o nosso momento e era tão sagrado, que era um desrespeito entrarmos na sala nos sentindo feias e desarrumadas, desrespeito com nós mesmas... todas as aulas, sempre assim, um ritual!


As aulas de dança do ventre sempre vinham acompanhadas com história, misticismo e conhecimento corporal. Já as de dança cigana vinham sempre com um texto de reflexão e muito autoconhecimento. Em tudo o misticismo se fazia presente, os significados das danças, das roupas, dos acessórios, a busca em sermos seres humanos melhores, em refletirmos nossos atos. Sinto falta dos textos que a Elaine lia pra nós no inicio de cada aula, parecia que era pra gente, sempre!

E quando chegavam alunas novas? Nós emprestávamos nossas coisas e vibrávamos juntas vendo as descobertas que elas faziam. As mulheres que chegavam tímidas e fechadas nos primeiros dias, depois de um mês pareciam flores desabrochando.

Hoje as aulas que frequento já não tem mais esse universo, até porque meu foco é outro, quando eu estou na sala como aluna o que procuro é técnica, aperfeiçoamento, até porque o hobby virou profissão. Mas, quando estou na sala como professora ou até como diretora da Mahasin faço questão de tentar trazer um pouquinho disso para as alunas, pois sei o quão gostoso e importante foi pra mim passar por essa fase.

Enfim... Deixando o saudosismo de lado, o que quero dizer com o texto de hoje é tentar traduzir a importância dessa imersão, que as alunas vivem em outra cultura, quando procuram a dança. O que ela vai fazer com a dança dela lá na frente não importa, não importa se ela será profissional, se ela será amadora, se ela vai abrir um ateliê, ou se vai descobrir que a praia dela não é a dança e decidir parar, isso não importa! Mas está nas nossas mãos deixar que essa decisão seja tão somente da aluna, está nas nossas mãos mostrar pra ela o quão incrível é a nossa arte, o quão gostoso é pertencer a um grupo, o quão importante é ter auto estima, o quão gostoso é conhecer uma outra cultura e superar-se em cada novo movimento e ainda mostrar a possibilidade de na sala de aula haver um lugar onde ela possa esquecer da vida lá fora.

Não estou dizendo que forma é melhor ou não, mas é importante, que nós professoras, façamos das nossas aulas, momentos especiais, momentos de troca: troca de conhecimento, troca de energia!

Eu e minhas alunas! #muitoorgulho

A inspiração pra esse post? Minhas alunas! Com elas eu aprendo e ensino, nelas eu vejo a concretização de tudo isso aí em cima que é importante pra mim, posso não fazer exatamente como aprendi, mas tento tornar tudo o mais especial possível, elas merecem! No último dia 5 recebi flores das minhas alunas no dia de sua primeiríssima apresentação, só Deus sabe o quanto me segurei pra não chorar e borrar a maquiagem recém feita, pra você pode não ser nada, pra mim foi como ganhar o coração de cada uma de presente... ali o sentimento de que tudo está valendo a pena e que sim, eu consegui mudar um pouquinho as vidas dessas mulheres tão especiais :)

Vanessa, eu e Elaine #aculpaédelas

Hoje eu deixo o meu agradecimento as minhas primeiras professoras Vanessa Adescenco e Elaine Nascimento, obrigada por fazer do meu inicio na dança algo tão especial, a responsabilidade de eu ter me apaixonado pela dança, querer caminhar sozinha, mudar a vida de outras pessoas e hoje ter chego até aqui toda de vocês!

Pra você, que está começando a dançar agora eu desejo que não se perca no caminho, desejo que você nunca se esqueça do porquê começou a dançar e pra você que já tá aí nessa estrada há uns anos como eu, desejo que você nunca esqueça a sua essência e que você possa fazer com que o começo das suas alunas também seja especial!

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