quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Estilos de dança: Tradicional

Por Isis Mahasin

Muito se diz a respeito da dança tradicional e como ela tem que ser, mas a verdade é que poucas bailarinas sabem seu real significado e importância dentro do mundo bellydance, eu devo confessar que eu era uma destas pessoas há um tempo e vou contar para vocês a minha trajetória para descobrir a dança e a beleza deste estilo tão importante.

Sempre fui uma bailarina acelerada, até porque minha personalidade é assim e acho que a gente não oferece para o público o que não tem, mas isso já é assunto para outro post... Por ser uma pessoa agitada a minha dança também era, e não porque me esforçava para ser assim, sempre penso que estou lenta e então assisto uma filmagem e voilá estou, como dizem, possuída pelo ritmo ‘ragatanga’, rsrs... Por que estou falando isso? Porque por muito tempo achei que ser uma bailarina tradicional era ser lenta, só fazer ondulação e não é bem por aí.

Quando começamos a dança do ventre (DV) não sabemos nem o que estamos dançando, confiamos que o conteúdo que a professora ensina é a lei e que todo mundo aprende igual e tem os mesmos passos e tudo certinho. Infelizmente a DV não é uma modalidade que tem uma terminologia ou uma forma de ensino documentada, então cada profissional acaba ensinando o que quer, aquilo que domina, e muitas vezes sobram lacunas para as alunas. Eu por exemplo nunca aprendi em sala de aula o que era ser ou não ser tradicional, fui aprender bem depois, e acredito que o erro de muitas bailarinas na hora de interpretar este estilo de dança em um concurso, por exemplo, tem esta mesma lacuna que eu tive.

Para falar do que é tradicional eu conversei com duas amigas e grandes profissionais que convivem com a cultura em suas próprias famílias e estudam muito também, afinal, não existe fonte mais fidedigna do que alguém que assiste a cultura no quintal da sua casa, por assim dizer. Essas duas bailarinas incríveis são a Fátima Braga, minha ‘mãezona’ na DV, me viu desde pequena em concursos, me dava várias dicas e puxa a minha orelha até hoje quando eu preciso (rsrs), e a Kaamilah Mourad, minha irmã de cochia e amiga de horas ao telefone que também me ensina muito.

Para entender da dança do ventre tradicional, temos que estudar bailarinas da chamada Golden Age (Era de Ouro), como por exemplo a Nagwa Fouad que ilustra o começo deste post (uma das minhas favoritas), mas também a Samia Gamal, Badia Masabni, Tahia Carioca, Soheir Zaki, Neima Akef e Fifi Abdo. O segredo da dança delas não são os movimentos, você pode fazer giros e arabesques e continuar tradicional. Samia Gamal tinha formação em Ballet e introduziu os arabesques na Dança do Ventre. O segredo, afinal, é a forma como colocam esses elementos na dança, a delicadeza na interpretação, uma movimentação pequena e com menos movimentos, onde o quadril era bem marcado e os passos básicos não podiam faltar.


Este vídeo acima é da Nagwa Fouad, observe que não é uma dança lenta e sem energia, mas também não deixa de ser delicada, de ter o quadril, as ondulações e tudo isso dentro de um espaço pequeno. O abaixo é da Samia Gamal trecho também retirado de um filme.



O estilo dançado entre as mulheres árabes nas festas e comemorações familiares é apenas um, o Rassa, onde a dança é bem tradicional e simples, ela é mais brincada, mais alegre e delicada, não é o formato como popularmente conhecemos. Então se você tiver uma aluna árabe ela vai falar que sabe DV, mas desta forma e não o que estamos acostumadas a ensinar.

Foi por meio dos filmes que a dança do ventre chegou no ocidente, e a Raks Sharki como conhecemos hoje é fruto destas bailarinas que se atreveram a dançar fora, muitas saíram de casa ainda adolescentes para seguir sua paixão pela arte e se não fosse por elas, talvez não estivéssemos aqui.

Com o passar dos anos, a dança do ventre foi se modificando, sofrendo influências de outras modalidades e influenciando-as também, essa evolução natural contribuiu para difundi-la pelo mundo e para torná-la como conhecemos hoje. Mas o choque cultural ainda existe, pelo simples fato de que não somos árabes, podemos até compreender mas talvez nunca viver de fato o que a cultura significa, por este motivo temos que estudar, para não confundir a dança moderna com a dança tradicional. Você pode ser moderna e incorporar outros elementos em sua dança – foi isso que eu custei a entender – você pode fazer coisas diferentes, desde que seja adequado à proposta da dança, ao local e ao público.

A importância da dança tradicional é que ela seja o fundamento para tudo que podemos criar na DV nos dias de hoje, então se não ensinarmos as nossas alunas a trabalhar um camelo, um oito, um básico egípcio bem feito, logo não teremos mais a referência do que é dança do ventre ou do que é estilo livre. Já é ruim não termos a mesma terminologia de ensino, mas se o básico não for passado, logo a dança se perde.

Evoluir é necessário, mas sou contra extremos, só o que é novo não traduz toda a dança em seu sentimento e natureza e acredito que só o que é tradicional não supre toda a diversidade de movimentos que podemos ter no nosso corpo. Creio que o caminho do meio é o segredo. Destaco aqui bailarinos que estão neste caminho e que são meus preferidos atualmente: Igor Kischka e Daria Mitskevick, eles têm uma ótima qualidade de performance e um ótimo trabalho de giros e postura mas sem perder a movimentação bem feita de ondulações e marcações.

Já falei da Daria na minha coluna de inspirações, lá tem vários vídeos dela, você pode conferir AQUI, abaixo deixo um vídeo do Igor.



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